Expedito Lima
Por Caren Lima

BABQuando começou o seu gosto pela pintura?

Expedito Lima: Foi uma coisa natural. Desde criança, muito cedo, sempre me interessei pela arte, desenho, pintura. Nos primeiros dias de aula percebi que não me interessa muito pelas matérias didáticas, e me interessava mais pela educação artística. Fui me desenvolvendo e nunca parei. A vida toda tenho passado desenhando e pintando.

BAB: O que você mais gosta de pintar?

Expedito Lima: O gostar é uma questão de ideologia. Eu acredito que o artista tem que desenhar aquilo que ele sente, que está mais próximo dele. Então, quando eu falo que é uma questão de ideologia, no meu caso, é o regionalismo, a pintura do nosso povo, de nossos costumes e tradições, apesar de existir um preconceito muito grande, pois como na pintura mundial, a mais famosa é a européia, alguns artistas acham que o fato de pintar o regional é pintar apenas o local. Mas há um grande engano nisso, porque toda pintura universal é regional. O problema é que ela se torna tão famosa que gera essa interpretação de achar que nossa pintura, no caso, a pintura brasileira, deveria ser uma pintura mais universal. Por exemplo: Se formos olhar as obras de Picasso, veremos que toda a obra dele tem um forte sentimento espanhol. Os impressionistas têm um forte sentimento francês, e assim por diante. Então eu defendo e gosto. Não é só uma questão de defesa, é também uma questão de gostar. Pinto o meu povo, nossos costumes, coisas simples como uma mãe catando uma filha.

BAB: Qual a relação regional/universal nesse exemplo?

Expedito Lima: Porque na Europa uma cena desse tipo não é compreendida, uma vez que não existe uma mãe catando uma filha lá. Isso existia na idade média, mas aqui você ainda consegue ver em vários locais. Isso mostra que é uma pintura regional, mas se você expôr de uma maneira mais ampla ela se torna uma cena universal, é só uma questão das pessoas conhecerem mais. A cultura regional, na realidade, é totalmente inesquecível. Ela se torna universal quando é ampliada.

BAB: Falando em cultura regional, em 1992 houve um movimento grande nas festividades do cinquentenário do bairro, das quais você participou, como foi esse trabalho de pintar os locais de nosso bairro?

Expedito Lima: Essa foi uma das exposições que mais me deixou comovido, porque eu praticamente nasce neste bairro, vim para cá com seis anos de idade e o bairro de Antônio Bezerra tem toda uma história. O antigo Barro Vermelho. Aqui havia muitas chácaras e sítios que serviram de palco para reuniões abolicionistas. O local era apropriado pois era ermo, praticamente só vegetação. Então tudo isso, a história e o povo, pois o povo do Bairro Antônio Bezerra é um povo que tem história. Era uma sensação muito boa quando eu saía nas casas, conversava com as pessoas e elas se ajeitavam para que eu as retratasse. Alguns infelizmente já se foram, mas foi um período muito interessante. Quando você houve a história da pessoa você consegue fazer algo muito legal e colocar uma certa personalidade naquele retrato. Nas época fiz muitas caricaturas, pois eu queria colocar um certo humor, para tornar aquele retrato mais interessante, menos frio. Foi uma emoção muito grande. Houve uma continuidade em outros bairros. Nós fomos os pioneiros nisso. Pena que não continuou, mas este site mostra que existe um novo fôlego. Muito legal isso que está acontecendo.

BAB: Como você vê o desenvolvimento da arte em Fortaleza?

Expedito Lima: Eu acho muito grande. Primeiro pela nossa origem. O povo cearense é um povo artístico. Em cada lar tem um artista. Eu acho que isso comprova a teoria de Darwin. Parece que é uma maneira de você vencer, de você evoluir. Parece que quanto mais são as mazelas, mais esse povo consegue ser criativo. Fortaleza é especial. Eu acredito que o povo cearense é o povo mais artístico da face da terra. São grandes artistas, muito conceituados, inclusive lá fora. O problema é que a mídia não olha muito para esse lado. Se você perguntar a alguém o nome de um artista da globo, todos sabem. Mas se você perguntar o nome de um artista de nome como Aldenir Martins, Raimundo Cela, Afonso Lopes, ninguém sabe quem é. Esse é um problema de educação. Falta interesse damídia, mas eu vejo que Fortaleza sempre vai revelar grandes nomes. Temos grandes salões aqui, como o de Abril, promovido pela Prefeitura,o da UNIFOR... Eu fico muito orgulhose de Fortaleza ser uma cidade que se preocupa bastante com a questão das artes.

BAB: O que você acha que deveria ser feito ara incentivar a arte em nosso bairro?

Expedito Lima: Eu acho que não só a arte, mas de qualquer outro segmento é a atuação dos vereadores. Nós conseguimos eleger durante décadas 3, 4 vereadores no bairro e somos extremamente carentes em relação a cultura e a tudo. Não temos uma única praça onde as pessoas possa caminhar, discutir. eu acho que falta espaço físico. Essa é a carência maior. Os vereadores não conseguem fazer um grande projeto que fique na história. Que o povo do Antônio Bezerra lempre para sempre. Tudo é muito descartável, é momentâneo. O Bairro de Antônio Bezerra é muito carente nessa questão do incentivo à cultura. Não temos um cinema, teatro...não temos nada em nosso bairro. O que acontece? As pessoas tem que ir lá fora! É uma pena isso, pois um povo é respeitado pela cultura que ele tem, pelos espaços, monumentos... Um tempo desse nós fizemos um mutirão de artistas e fomos pintar murais. Três semanas depois tudo foi coberto com propaganda política. Mas acredito que com o passar do tempo as pessoas vão se conscientizar mais. Temos nossa Igreja toda decorada com artes plásticas. Isso é uma coisa inédita e Fortaleza.

BAB: Deixe uma mensagem para os artistas anônimos do nosso bairro.

Expedito Lima: Pintar um quadro aparentemente é simples, mas na verdade é muito difícil descobrir algo novo. É preciso se dedicar e estudar muito. E ter a consciência de que é aquilo mesmo o que se quer. Pintem bastante e sempre procurem fazer um trabalho bom, conseguindo colocar personalidade na obra, para aqueles que a vejam saibam que é uma obra sua.