Apenas entristece um pouco este ovo azul que as crianças apedrejaram:
formigas ávidas devoram a albumina do pássaro frustrado. Cecília Meireles
Sávio tem 8 anos e sabe bem o que a palavra bullying implica, e não apenas porque ele recentemente aprendeu a tradução dela, mas também porque ele viveu suas consequências na própria pele. "Eu tenho cabelo longo e uns meninos ficavam me chamando de 'menina', e isso foi por um século", conta. "Fiquei triste porque não faz sentido zoarem por você ter cabelo longo." Sávio define o bullying assim: "É quando você ofende a pessoa pelo jeito que ela é, pela forma que é o corpo, pelo modo que ela fala, se veste ou tem de diferente da maioria."
Particularmente, e também porque sofri muito bullying na época da escola,fui chamada de Joãozinho, neguinha , Roxana, estou de acordo com a definição do Savio .No bullying há uma ofensa, uma agressão e isso machuca muito, abre uma ferida que sangra, mas como sempre tive uma personalidade dura , aprendi a conviver com o bullying.
Claro que, nas escolas, há conflitos entre crianças. Contudo, quem sofre o bullying, na maioria das vezes, não encontra uma maneira de interromper a agressão. Embora seja fundamental saber colocar limite, dizer 'não', quase sempre a vítima de bullying necessitará de ajuda para conseguir posicionar-se e interromper de modo definitivo a agressão. De outro lado, quem ofende, quem agride, também precisa de atenção, de apoio, para aprender a se colocar no lugar do outro e descobrir quanto é duro sofrer uma agressão descabida e que só causa dor, vexame, e a independer da idade.
Além disso, no geral, o mau comportamento apresentado pelo agressor pode ser uma extensão de vivências em um ambiente familiar tumultuado, sem a presença dos genitores e/ou sem regras claras ou limites. Ou seja, é importante buscar respostas sobre a origem do comportamento hostil e dessa necessidade de autoafirmação por parte do agressor.
As consequências do bullying acabam influenciando na saúde da criança e, automaticamente, no rendimento escolar, na vontade de estudar, na autoestima e podem ser um combustível para a continuação de mais ciclos de vulnerabilidade, como o abandono escolar e o consumo de drogas.
Como pais devemos estar atentos, pois, quantas vezes?, por trás das simples 'brincadeiras [sem graça] de criança' pode existir um problema muito mais sério e nada inofensivo: o bullying infantil. Menores que sofrem este tipo de coação estão expostos a consequências, muitas vezes, irreversíveis.
O bullying é a prática de ações e comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos contra uma pessoa. Ele envolve agressões verbais, físicas, materiais, psicológicas, sexuais ou virtuais. Além disso, pode surgir de diversas maneiras e influenciar os meios em que a pessoa está inserida: casa, escola, trabalho, ambiente de lazer etc.
Uso de óculos, peso, altura, cor de pele, cabelos, religião, timidez e outras coisas banais são motivos para o bullying. Nesse contexto, muitas crianças que são vítimas desse problema social passam a acreditar nas ofensas e a se perceber com um olhar tão crítico e cruel quanto o do agressor.
Meninas, no geral, sofrem mais bullying verbal, elas são chamadas de alguma coisa, ou apelidos, ofensas. Já os meninos passam mais por bullying físico, são empurrados, isto é, a agressão implica disputa física ou subordinação física.
O bullying se dá por ações repetitivas que podem ser tão sutis, que ocorrem sem que os adultos percebam. Por isso, mais do que conferir notas e presenças no boletim, os pais precisam estar envolvidos com a rotina e acompanhar a socialização da criança, saber se tem amigos, quem são eles, quem é a família e como se comportam.
Hoje em dia é fundamental que a escola se preocupe em desenvolver programas para um desenvolvimento dos alunos que vai além do puramente cognitivo. Afinal, o trabalho das competências socioemocionais pode contribuir muito no combate ao bullying.
Muitas vezes, o bullying tem consequências devastadoras para suas vítimas, por isso quanto mais cedo detectado, melhor.