Dante Alighieri no Canto XII do "Inferno", ao ver como padeciam os condenados do Sétimo Círculo, reservado aos violentos, deu um aviso aos impacientes: 

 

"Oh cega cupidez, louca ira serve 

a acicatar-nos tanto a curta vida, 

que tanto mal na eterna nos reserve!" 

 Desses versos duas palavras merecem atenção. 

 A primeira é "cupidez", que é uma ganância enorme por possuir qualquer coisa e que conduz a uma ira "louca", como ele disse. 

 A segunda é "acicatar", que literalmente significa "esporear", como a um cavalo. 

 O desejo descontrolado de possuir algo nos esporeia como a cavalos, pois aquele que é tomado por uma "ira louca" de possuir deixa de ser gente, perde a razão. 

 Somos tomados por essa cupidez todas as vezes em que a balbúrdia cotidiana nos demove dos objetivos mais altos — a busca pela verdade e a santificação de nossas almas — em favor de possuir coisas menores, mesquinhas e de curto prazo. 

 E, como a cavalos montados, somos esporeados, dominados por uma paixão que nos tira da ordem, da centralidade exigida para buscar o que realmente importa, cujo prazo é longo. 

 Não à toa, os que mais se perdem na tentação da mesquinhez são os mesmos que deixam de estudar para "buscar a verdade" e de rezar para "acertar suas contas com Deus", pois "não têm tempo a perder com essas coisas". 

 Eles são os cavalos irracionais, impacientes por obter coisas do mundo, que Dante coloca no Sétimo Círculo infernal. 

 É urgente ouvir a sua advertência, parar de perder tempo com tolices imediatistas e perseguir objetivos duradouros, verdadeiros, como a inteligência e a santificação, cuja busca precisa começar hoje. 

 Não podemos mais adiar o que é mais importante e que só depende de nós, em favor de continuar a desperdiçar talentos, tempo e energia com bobagens passageiras. 

 Ao fim da vida, as contas nos serão pedidas do que fizemos e do que buscamos, e não haverá tempo para reparar mais nada.