Quando digo "eu te amo" o que exatamente estou dizendo? Estou roubando o tema  ,do meu amigo querido Feliciano de Carvalho Junior que um dia falamos sobre isso. Quando se fala * eu te amo *acima de tudo, quem está falando? Meu desejo, minha idealização, meu vício, meu excesso, minha loucura? Não há palavra mais equívoca do que "amor" e mais entrelaçada com todas aquelas outras palavras que, por lógica, são a sua negação.

Todos nós já experimentamos, mais ou menos, que o amor se alimenta da novidade, do mistério e do perigo e tem como inimigos o tempo, o cotidiano e a familiaridade. Surge da idealização da pessoa amada por quem nos apaixonamos por um feitiço da imaginação, mas depois o tempo, que joga a favor da realidade, produz o desencanto e transforma o amor num afeto desapaixonado ou na amargura da desilusão. Aqui Freud nos faz uma pergunta: "Quanta felicidade trocamos por segurança?". Umberto Galimberti nos entrega um volume em que a acuidade do pensamento penetra nos meandros do sentimento e do desejo, registrando as mudanças ocorridas na dinâmica da atração, no pacto com a amada, nos caminhos do prazer (do onanismo à perversão) .

Ao fundo move-se, como um fantasma, continuamente evocado e afastado, aquilo que os homens, própria ou indevidamente, não param de chamar de amor. Amor e idealização": A percepção da realidade é uma construção ativa, onde a imaginação, a fantasia, o desejo, de que a idealização do amor é uma figura, intervêm para transfigurar os dados da realidade. Disso se deduz que a objetividade é uma ideal impossível, e de fato a convicção de conhecer o outro objetivamente é uma das muitas ilusões criadas pela paixão para evitar a decepção.

De fato, o desejo se encontra em cada fenda da realidade que deixa transparecer um outro significado: o do irreal e do de-real. O corpo do outro torna-se assim um espelho que reflete nosso desejo, e esse corpo nunca deve estar nu , porque a sedução se expressa através da roupa, dos acessórios, dos gestos, da música. sexualidade, impõe a barreira do pudor.

No entanto, não limita a sexualidade, mas a identifica, subtraindo-a dessa generalidade em que o prazer é celebrado sem reconhecer a individualidade. É importante sublinhar que o pudor não é um sentimento exclusivamente sexual, mas também tem um valor social que se coloca em defesa do indivíduo contra a publicidade do privado