Amar é semelhante a uma obra de arte

Apaixonar-se é a ocasião para nos conhecermos profundamente A pessoa apaixonada superestima sua amada. Os psicólogos nos explicam que ela projeta seus desejos em você, os psicanalistas nos dizem que ela volta a ser criança e vê nele seus pais. Além disso, quando nos apaixonamos ficamos otimistas, achamos todos melhores e o mundo parece mais colorido e brilhante.

Mas apaixonar-se não é apenas uma ilusão, é também um conhecimento. Conhecemos nosso eu mais profundo apenas através de outro ser humano. Fazemo-lo com os pais na infância, depois na amizade, mas sobretudo no enamoramento. Por isso queremos saber tudo sobre o nosso ente querido, a ponto de querer ter estado ao seu lado, tê-lo amado e sempre ter sido amado em troca.

Nós o vemos não apenas como ele é agora, mas como ele era quando criança, quando jovem, reconstituímos todas as suas experiências, até mesmo seus amores. E ele faz o mesmo conosco. Portanto, não conhecemos apenas as nossas projeções dele. Mas também suas ações, suas qualidades, suas virtudes, suas fraquezas, seus erros e seu potencial oculto, como um diretor que já vê a atriz maravilhosa na garota ainda rude que tem à sua frente. Este extraordinário processo de conhecimento só é possível sob duas condições.

A primeira é que todos, ao contarem a sua história de vida, digam a verdade. Somente aqueles que são sinceros sobre o seu passado abrem o coração e a alma aos outros e podem fundir-se com eles sem perder a sua identidade. A outra condição é a liberdade. Todos devem ser livres para se expressarem, para perguntar aos outros o que gostamos e dizer-lhes o que não gostamos. Apaixonar-se é uma grande oportunidade de conhecer seus desejos mais profundos sem ser esmagado por limites, restrições, tabus, hábitos que nos impedem. Porém, muitas pessoas não têm coragem de deixar emergir o seu eu mais profundo, inibem-se, ficam caladas, mentem ou mostram apenas os aspectos que acham que vão agradar ao seu ente querido.

Em vez disso, é apenas a compreensão mútua contínua e progressiva que faz o amor durar. Porque o ser humano tem mil faces, mil potenciais e quando nos libertamos dos freios e nos abandonamos com confiança eles os fazem florescer, para que cada encontro se torne novo e surpreendente. Eu compararia os amantes a dois artistas que tiram milhares de fotografias um do outro, cada vez capturando imagens diferentes da pessoa amada e de si mesmos. Imagens que são produtos da sua imaginação mas, ao mesmo tempo, reais. Este é o conhecimento do amor, tão semelhante ao da arte.