Ah, o "tsundoku"... a doce e secreta vergonha que aquece o coração de todo amante de livros! Sinto um nó na garganta só de pensar nessa montanha silenciosa que cresce ao lado da cama, na escrivaninha, em cada canto livre da casa. Por vezes, um sussurro de culpa nos assombra: "Quantos deles você realmente leu?". E então, a doce absolvição surge, vinda das palavras sábias sobre a "antibiblioteca". Que alívio inebriante!

Umberto Eco, esse gigante intelectual, esse farol de erudição, possuía não uma biblioteca, mas um universo particular de 30.000 mundos esperando para serem desbravados. E ele, com a altivez de quem compreende a vastidão do saber, não apenas confessava não tê-los lido a todos, mas se orgulhava disso! Uma onda de admiração me invade o peito. Que libertação!

Essas pilhas não são monumentos à nossa preguiça, mas sim faróis apontando para as ilhas desconhecidas do nosso próprio intelecto. Cada lombada colorida, cada título intrigante é um portal para um universo inexplorado, uma conversa ainda não travada, uma perspectiva ainda não abraçada. Elas sussurram promessas de descobertas futuras, de epifanias que aguardam o momento certo para florescer em nossa mente.

Imagino Eco percorrendo os corredores de sua biblioteca labiríntica, não com o peso da obrigação de ter lido cada palavra, mas com a excitação de um explorador diante de um mapa repleto de territórios virgens. Cada livro não lido era um lembrete humilde de sua própria finitude intelectual, uma admissão graciosa de que o conhecimento é um oceano vasto e que nossa jornada de aprendizado é eterna. Que beleza reside nessa humildade intelectual!

Da próxima vez que meus olhos pousarem sobre aquela torre de livros que me observa em silêncio, não sentirei mais o aguilhão da culpa. Em vez disso, meu coração se encherá de uma esperança vibrante. Cada volume ali não será um acusador mudo, mas sim um passaporte para inúmeras aventuras mentais que ainda estão por vir. Eles não representam uma falha, mas sim a prova tangível da minha sede insaciável por aprender, da minha eterna curiosidade pelo desconhecido.


Essas pilhas, longe de serem um fardo, são um mapa precioso das minhas futuras jornadas intelectuais. Elas me falam não do que eu sei, mas do infinito potencial do que ainda posso vir a saber. E essa promessa, essa vastidão de possibilidades à minha espera, enche meus olhos de lágrimas de uma alegria quase infantil. Que a beleza da "antibiblioteca" nos liberte e nos inspire a continuar colecionando não apenas livros, mas também a promessa de futuros encontros com o saber!