Vivemos em fuga. De manhã, acordamos, tomamos café, depois tomamos banho, nos vestimos e saímos para ir ao escritório. Depois de oito horas, voltamos para casa. Treinamos duas ou três vezes por semana, jantamos, e à noite nos jogamos no sofá e depois na cama. Uma rotina que, a longo prazo, pode "manchar" até a relação mais consolidada entre um casal.

     No entanto, as razões pelas quais o desejo sexual diminui não se limitam à monotonia da vida, mas têm raízes muito mais profundas. Entre os motivos ligados à esfera emocional, o mais difundido e talvez também o mais "óbvio" é que já não gostamos do nosso parceiro. "Quando o sentimento acaba, o desejo pode ser seguido por uma diminuição do comprometimento emocional e mental. Mesmo o descaso pessoal, que a longo prazo acaba por deserotizar a si mesmo ou ao companheiro, ou o estresse devido a mudanças familiares (como a chegada de um filho) ou mudanças de trabalho (como a perda do emprego), pode causar desinteresse pela sexualidade", explica Sara Guerra, psicóloga e sexóloga.

     Dentre os fatores fisiológicos que afetam o desejo, o mais relevante é, sem dúvida, a idade. "Tanto homens como mulheres, durante a menopausa e a andropausa, experimentam declínios hormonais fisiológicos. Mesmo as terapias farmacológicas (certas drogas podem levar à inibição do desejo), algumas doenças ou intervenções cirúrgicas podem deserotizar-nos, fazendo-nos sentir doentes, não mais sexy, mas frágeis", continua a sexóloga.

     Agora, uma questão surge espontaneamente: existem sinais de alerta sintomáticos do problema? "Os alarmes que indicam um declínio no desejo devem ser procurados dentro de nós mesmos. Cada um de nós se conhece e é capaz de entender se algo mudou ou está mudando. Dentro desta análise, deve-se levar em consideração que a curva do desejo, que acompanha o andamento da vida, o que acontece e como vivemos, sofre inflexões fisiológicas. Portanto, o desejo não pode ser sempre o mesmo.

     Porém, há situações que vale a pena manter sob observação. Por exemplo, se o declínio do desejo leva à ausência de desejo instintivo ou aversão sexual, seria uma boa ideia aprofundar o problema com um especialista. As investigações devem ser tanto biológicas quanto psicológicas. Se, no entanto, notamos um desejo menor do que o habitual, mas, quando o parceiro nos estimula corretamente, "o motor começa a funcionar", então é possível aprofundar as motivações, trabalhar e trazer o desejo de volta ao nível que desejamos", comenta Sara Guerra.


Rossana Kopf psicanalista