A disputa pela medalha do estreante surf nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 teve um mar para cada brasileiro. Enquanto que para o multicampeão Gabriel Medina faltou onda, para Ítalo Ferreira, o mar se abriu para a conquista do primeiro ouro olímpico brasileiro, no Japão.

Se para Medina, que poderia ter ido até o fundo do mar provocar netuno por algumas ondas, como mostra na propaganda de um patrocinador, para leigos e até para especialistas seguem as dúvidas de acerca dos critérios de avaliação dos jurados, sobre a vitória de Ferreira não restou dúvida nenhuma. 

No caso de Gabriel, manobras semelhantes tiveram pontuações bem distintas, já para Ítalo, apesar do susto de ter a prancha quebrada logo no início da bateria, o placar inquestionável de 15,14 a 6,60 sobre Kanoa Igarashi, o mesmo que eliminou Medina, fez o potiguar alar do mar o ouro brasileiro na competição.

Com a medalha desta terça-feira, já são duas com o DNA nordestino, se lembrarmos da façanha da maranhense Rayssa Leal que conquistou a prata em outro esporte estreante em Tóquio, o skate. Rayssa é do estado nordestino que teve a mais baixa Renda Per Capita do País, segundo dados do IBGE divulgados em 2020. O Maranhão ficou com uma renda média domiciliar de R$ 635,59, bem distante dos R$ 2.685,76 do Distrito Federal. Aliás, com o DF, as dez primeiras posições nesse ranking privilegiado são de estados do sul, sudeste e centro-oeste. O melhor nortista é Rondônia na 12ª colocação, seguido do Rio Grande do Norte, na 13ª, terra natal de Ítalo Ferreira. Para título de informação, o Ceará ocupa a décima oitava posição, apesar da melhora em relação ao levantamento anterior.

Embora saibamos das discrepâncias entre o Oiapoque e o Chuí, esses detalhes olímpicos reforçam que mais do que diferenças geográficas, o brasileiro precisa mesmo é de oportunidade, seja ele ou ela do norte, nordeste, centro-oeste, sudeste ou sul.

Viva o nordeste e viva o esporte brasileiro.