Há cerca de 15 dias, eu tive o privilégio de acompanhar uma aula pública da disciplina de Relações Étnicos Raciais e Serviço Social no Brasil do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará.
Com o tema Serviço Social e os enfrentamentos ao racismo, a exposição por si só já seria um presente para quem é curioso e milita pelos direitos de equidade racial, mas, para além disso, teve uma explanação da professora Zelma Madeira, expoente da temática, fundadora e coordenadora do Laboratório de Afro brasilidade, gênero e família (NUAFRO/UECE) e atual secretária estadual de Igualdade Racial.
Como a própria palestrante abordou, essa disciplina é resultado de uma luta, como todas as lutas do movimento negro brasileiro. Segundo ela, a busca para implementar esse estudo na grade curricular do curso de Serviço Social começou nos idos do ano de 1997, sendo efetivado somente em 2021.
O fortalecimento de uma disciplina como essa, não somente colabora para o engrandecimento da causa, mas “belisca” outra fatia que é do racismo científico, acadêmico. Levar essa discussão para a sala de aula, sobretudo a de formação superior, incrementa fundamentalmente um debate que precisa ser crítico e propositivo.
Crítico, quando não se cala diante das injustiças e diferenças raciais vividas ao longo dos séculos no Brasil, principalmente por conta de uma escravidão hedionda que traz resquícios catastróficos, mesmo depois da suposta libertação em 1888.
Deve ser propositivo, quando apresenta disciplina e discussões como essas, quando garante a efetivação de políticas afirmativas, como as cotas raciais, seja no serviço públicos ou para acessar as universidades, afinal 60% das empregadas domésticas no Brasil são negras e não conseguem competir com a mesma igualdade de chance com as pessoas dos privilégios.
Como bem mencionou a professora Zelma em sua apresentação, o racismo desumaniza e para combater essa forma de desumanização, deve existir a formação de rede/conexão, maior disseminação de conhecimento e pessoas que abracem a causa, pois não basta colocar a culpa no branco, mas discutir os critérios de uma sociedade racializada.
Por mais disciplinas como essa, por mais oportunidades de conhecimento, por mais esclarecimento e por mais identidade com um tema que é de todos os brasileiros, afinal a maioria, se não todos temos alguma gota de sangue negro nas veias.