Há pessoas que, por falta da virtude da humildade, são incapazes de perceber os próprios defeitos e reconhecer as próprias desordens.
Quando confrontadas com a verdade, pela ação misericordiosa de alguém que se importe com o seu bem ou de alguém que já não as aguenta mais, não sendo mais possível negar a própria miséria, elas dizem:
*Ah, eu sou assim. Não consigo mudar."


Isso é pura soberba. É o mesmo que dizer que Deus criou algumas pessoas para serem virtuosas, ordenadas e outras para serem miseráveis, mesquinhas e, por isso, ficarão praticando o mal por toda a sua vida. É absurdo.


Na verdade, não é só absurdo, esse tipo de pensamento é herético. Pois, se Deus fez uns para serem bons e outros para serem maus, Ele também criou alguns para a salvação e outros, para a condenação.  
Onde estariam a Justiça e a Misericórdia divinas? Que Deus seria esse?


Não. A virtude e a ordem não são dons dados apenas a alguns eleitos. Todo homem é dotado por Deus de uma alma, que é feita à Sua imagem e semelhança, e é chamado à salvação.


Não à toa, Nosso Senhor, no Evangelho de São Mateus 5,48, nos exorta — a todos — à perfeição:
"Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito."


Esse é o fim da vida humana, como eu já disse em outras dessas nossas conversas: unir-nos a Deus o mais perfeitamente nesta vida, para alcançarmos a união perfeitíssima com Ele na eternidade.


Nenhum de nós é chamado à mediocridade, à fraqueza, à indiferença. Todos podemos aprender a desenvolver e praticar as virtudes, todos podemos encontrar a ordem em nossas vidas, todos podemos ser santos. Foi para isso que fomos criados.


Não confunda, portanto, a aceitação das circunstâncias que a vida nos impõe, sem que nós optemos por elas, com a aceitação da mediocridade, da fraqueza e dos vícios. 


As primeiras são algo sobre o qual não temos culpa, não escolhemos, e devem ser incorporadas à nossa vida para que aperfeiçoemos o nosso caráter e a nossa alma para merecer, um dia, a glória eterna.


O resto — as misérias — cresce e se desenvolve por responsabilidade inteiramente nossa, e se não o vencermos, nos tornaremos seus escravos e seremos privados do fim que nos foi reservado.


Essa é uma verdade com a qual precisamos nos conformar agora, neste momento, para não vivermos uma vida inteira de mentira e autoengano e sermos surpreendidos, ao seu fim, pela percepção, talvez tardia, de que ela foi uma farsa e não valeu a pena.
A hora de buscarmos nossa melhora  é esta.