Quando falamos de Amor combinamos numa única definição dois aspectos deste sentimento que são completamente opostos e mutuamente exclusivos. Pensar em um aspecto do Amor em conflito com o outro gera confusão e frustração e percebemos que o Amor é muito pessoal, enigmático e misterioso para ser compreendido.

Os antigos gregos, de facto, preferiam usar dois termos muito distintos para definir estes dois aspectos: Eros e Ágape. Eros é Amor Paixão, é o que costumamos sentir pelo parceiro "impossível" e é justamente essa percepção do impossível que desperta tamanha paixão. Paixão significa literalmente sofrimento e muitas vezes acontece que quanto maior o sofrimento, maior é a paixão. Mas Eros não conduz ao Ágape e muito menos o favorece. Numa relação apaixonada, por mais plena que seja de excitação, sofrimento e frustração, há a sensação de que falta algo muito importante, nomeadamente Ágape.

Ágape é o relacionamento estável e comprometido, representa o compromisso mútuo entre duas pessoas que se amam e se preocupam uma com a outra. À luz desta breve premissa, procuremos dar uma resposta à questão inicial: amar "demais" é mesmo amor? Talvez não. Na realidade, quando amamos demais, não estamos amando nada. Mas o que significa "amar demais"? Quando estar apaixonado significa sofrimento, quando todo o mau humor, o mau caráter, a indiferença, as traições do parceiro são justificadas então estamos amando demais. Então, talvez mais do que amor, somos apenas dominados pelo medo: medo de ficar sozinho, de não ser digno de amor, de ser ignorado e/ou abandonado.

Nestes termos, o nosso amor torna-se mais uma obsessão, um apego obsessivo ao nosso parceiro, que domina os sentimentos e as ações e que, embora tenhamos consciência de que tudo isto afeta negativamente a nossa saúde e o nosso bem-estar, não podemos prescindir dele. Outra questão surge espontaneamente: por que isso acontece? O psicoterapeuta americano R. Norwood, que tem discutido bastante o tema, destacou algumas características que têm em comum as pessoas que se encontram nesses amores mórbidos e apaixonados.

– Ser oriundo de uma família pouco afetiva ou totalmente afetiva, uma família em que ninguém cuidava das suas necessidades emocionais; – Oferecer carinho e atenção ao parceiro que parece precisar é a compensação certa pelo pouco carinho recebido no passado; – Encontrar aquele familiar parceiro emocionalmente indisponível e esperar que, apesar do fracasso na tentativa de transformar os pais em pessoas calorosas e afetuosas, talvez desta vez com o amor se obtenha a justa redenção;

– Ter medo de ser abandonado e fazer de tudo para evitar que isso aconteça; – Estar habituado e, portanto, disposto a esperar, esperar e continuar a esforçar-se para agradar; – Estar disposto a assumir mais de 50% da responsabilidade e culpa em um relacionamento; – Ter autoestima profundamente baixa e estar convencido de que não merece mais felicidade do que isso, mas sim acreditar que é preciso conquistar essa possibilidade;

– Nunca ter se sentido seguro quando criança e agora ter necessidade de controlar seu parceiro e seu relacionamento; – Continuar a agarrar-se ao sonho de "como poderia ser" em vez de olhar para a realidade dos factos; – Ser dedicado ao parceiro e sofrer emocionalmente como uma droga; – Sentir-se tão atraído por pessoas com problemas que precisam ser resolvidos, esquecendo-se das responsabilidades que tem para consigo mesmo.

Cada um destes pontos necessitaria de uma análise detalhada, mas se ao ler esta lista reconhecermos algumas destas dinâmicas como familiares, então talvez estejamos dispostos a dar um primeiro passo. Amar demais traz consigo consequências. Aqueles que decidiram desempenhar este papel muito específico continuarão a negar as suas próprias necessidades para prover às dos outros. Primeiro os da sua família de origem, depois os do seu companheiro. As necessidades de amor, carinho, atenção e segurança, como foram ignoradas no passado, continuarão a ser ignoradas.

Tivemos que nos adaptar ao "crescer rápido" e nos tornamos mais fortes, mais adultos e muitas vezes ainda mais carentes.