Na última semana, eu concluí a série Rota 66 disponível em uma dessas plataformas de streaming. Ela representa parte do que o jornalista Caco Barcelos enfrentou para exercer o trabalho jornalístico, aliás, recomendo aos novos jornalistas esse exemplo de perseverança, coragem e compromisso com o jornalismo como ferramenta de responsabilidade social. Os tempos eram sombrios (ditadura militar 1964-1985) e a Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (ROTA) era o modelo adotado pela Polícia Militar de São Paulo para "combater" o crime.

Naquela ocasião, Caco resolveu denunciar as “preferências” da ROTA por espaços periféricos recheados de pretos e pardos, pois bastava ter um guarda-chuva nas mãos para ser metralhado. Mas o nosso texto não vai focar nas ações da ROTA, mas fará uma breve menção sobre o trabalho jornalístico. No último ano, segundo dados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a violência contra jornalistas aumentou em 69%. As agressões graves vão desde a destruição de equipamentos, passando por ameaças, violência física e até assassinatos.

É bem verdade que o horizonte em 2023 sinaliza um tratamento mais respeitoso com a imprensa, pelo menos da parte institucional do novo governo, sobretudo se comparado ao tratamento nada cortês promovido pelo último gestor do Palácio do Planalto. Prova disso é que a mesma Abraji aponta que em 2021, mais de 200 ataques contra os profissionais de imprensa partiram de pessoas ligadas ao então governo.

Já a prova contrária de um horizonte mais azul ocorreu durante a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diferentemente de 2019, quando os jornalistas relataram restrições como a falta de banheiro e água, neste ano, o tratamento foi minimamente digno da importância do Jornalismo para a democracia.

Não creio que voltaremos aos tempos de horror enfrentados por Caco Barcellos, porém o tempo mais recente anda bem nítido, basta lembrar dos ataques terroristas realizados há uma semana em Brasília, e mais ainda o desafio da pós-verdade que mais do que nunca justifica o trabalho jornalístico como necessário, urgente e que deve ser respeitado.

Sigamos a nossa premissa jornalística de jogar luz sobre a escuridão do malfeito, independentemente do tratamento dado, mas que acima de tudo tenhamos o respeito de todos para exercer o ofício de comunicar o indispensável para a vida.